sábado, 6 de setembro de 2008

A Morte de Artur


MALLORY, Sir Thomas. Thradução de Jane Roberta Lube Conté. Brasília: Thot Livraria e Editora, 1987.

O ciclo Arthuriano compreende todas as narrativas que atravessaram a Europa durante a Idade Média e posteriormente com as histórias de Arthur, Guinevere, Merlin, Lancelot, Nimue e os cavaleiros da Távola Redonda. Tais aventuras estavam repletas de elementos pagãos, Celtas, Saxões, Normandos e se mesclaram a temas cristãos, formando um corpus de lendas em que realidade e mito se confundem.

Estes romances (e que podem inclusive ter dado início à palavra e ao conceito de romance) foram cantados por menestréis em versos nas cortes da Bretanha, hoje parte da França; migraram para a ilha chamada pelos romanos de Britania, misturaram-se com lendas de cada local por onde passaram, e foram recontados em várias formas, chegando aos dias de hoje graças aos cronistas que os registraram em vários momentos da história da literatura de língua inglesa.

Um deles foi Sir Thomas Mallory, personagem controverso de quem se sabe apenas que morreu em 1417, sendo outros fatos de sua vida, e mesmo sua origem, pontos de discussão. Seja como for, a narrativa original é típica de uma era medieval repleta de superstição e religiosidade, de fantástico e de cavalheirismo. Juntamente com a História dos Reis da Bretanha, de Geoffrey de Monmouth, esta coletânea de aventuras das figuras lendárias de Arthur, Merlin e seus contemporâneos tornou-se fonte de quase toda narrativa sobre os tempos do amor cortês e os primórdios da história de Gales e da Inglaterra.

Constam desta excelente tradução, que adaptou com cuidado o inglês arcaico para o português, mantendo as repetições e expressões típicas da época, cinco dos 21 livros do original de Mallory.
É leitura obrigatória para qualquer estudioso da mitologia e das origens da literatura, bem como de todos que apreciam a cultura medieval ou o sabor das narrativas dos tempos em que dragões assolavam a terra, cavaleiros davam a vida por suas amadas e morrer em batalha por seu rei era uma honra e uma obrigação.

Trecho: (...)
Viram que ela cingia uma espada nobre, o que causou grande admiração ao Rei Artur, tendo-lhe ele perguntado:
- Donzela, por que cinges esssa espada? Ela não te convém.
- Explicarei agora - respondeu ela. - Esta espada, que trago à cinta, me causa grande tristeza e inconveniência, pois não me posso livrar dela, a menos que surja um cavaleiro que precisa ser homem excepcionalmente bom nas mãos e nos feitos, e precisa ser homem sem baixeza ou engodo ou traição. (...)
Foi quando Balin tomou a espada pelo cinto e bainha e a retirou facilmente; e quando examinou a espada gostou muito dela. E o rei e os barões admiraram muito Balin, que foi bem sucedido na aventura, e muitos cavaleiros sentiram despeito dele.
- Certamente - disse a donzela - este é um cavaleiro excepcionalmente bom, o maior em dignidade, o melhor e o maior que achei, sem engodo, sem traição ou baixeza e muitas maravilhas fará. Agora, cavaleiro gentil e cavaleiroso, dá-me a espada de volta.
- Não - retorquiu Balin. - Esta espada guardarei, a não ser que me seja tirada à força.
- Bem - voltou a donzela -, tu não és sábio ao ficares com ela e tirá-la de mim, pois com esta espada matarás teu melhor amigo e o homem que mais estimas no mundo, e a espada será a tua destruição.

Resenha de Rosana “Shelob”, que é membro da Toca SP do CB desde 2001.

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